Quem me conhece um pouco sabe que eu adoro bisbilhotar leituras. Bulas de remédio, propagandas, notas de rodapé e etc e tal.
Poi bem, nas minhas lidas e idas aqui e acolá vejam o que encontrei. Lindo texto de Rubens Alves!!! Mais que lindo ele é instigante... depois você só fica a se questionar: Como fazer meus alunos roubarem???
Enfim, não podia deixar de compartilhar, pois conhecimento deve ser compartilhado! Então após a leitura do texto colocarei algumas dicas para fazerem seus alunos "roubarem" na proposta de Rubens Alves .
Livros para serem furtados...
O agente do governo, desses encarregados de ir pelos campos visitando pequenos sitiantes para dizer-lhes das últimas maravilhas da ciência para assim melhorar suas colheitas e animais, estava desanimado. Visitava sitiantes, conversava, bebia café aguado doce, contava sobre os porcos melhores que eles poderiam criar, ninguém discordava, mas ninguém fazia nada. Continuavam a cria os porquinhos caruncho, mirrados. Desanimado, ele contou sua tristeza para um velho sábio. E foi isso que ele lhe disse: “O senhor está usando a pedagogia errada. O povo daqui sabe que ninguém faz nada de graça. São delicados. Não contestam. O senhor fala, eles prestam atenção, mas ficam pensando: ‘O que é que o doutor quer tirar da gente? O meu conselho é: pare de visitar e aconselhar. É inútil. Compre uma chacrinha. Cerque com arame farpado, seis fios. E escreva: ‘Entrada proibida’. Aí eles vão perguntar: ‘O que é que o doutor está escondendo da gente? O que é que a gente pode roubar dele?’Aí, de noite, eles vão assuntar. Vão ver seus porcos grandes e gordos...Agora são eles que vão visitar o senhor. Conversa vai, conversa vem, café com rosquinha, no final eles vão dizer: ‘Bonita a porcaiada sua. Sadia, grande, gorda...’Então, aos pouquinhos, como quem não quer nada, o senhor vai educando eles...’ Pensei que a filosofia do sábio matuto pode ser aplicada na educação. O roubo é um estímulo poderoso. Santo agostinho roubava pêras do vizinho só pelo prazer de roubar. Eu mesmo roubei pitangas e, para realizar meu furto, inventei uma maquineta de roubar pitangas. Meu desejo de roubar me fez pensar. Todo pai, mãe e professora fica atormentando as crianças e adolescentes para ler. Comportam-se como o agente do governo tentando ensinar os caipiras. Mas eles não querem ler. Ler é chato. Livro que se deseja ler são os livros proibidos: precisam ser roubados. Era assim quando eu era pequeno. A gente roubava o livro proibido e ia atrás das passagens mais escabrosas. Conselho para o pai: compre um livro engraçado e se ponha a ler na presença do filho, durante o “Jornal Nacional”. Quando chegar uma passagem engraçada ria, ria muito alto. O menino vai perguntar: “Pai, por que é que você está rindo?” “É esse livro aqui, meu filho”. “O que é tão engraçado?” “Agora não posso explicar. Não posso interromper a leitura...” O menino fica intrigado. Seu pai está tendo um prazer que ele não tem. Aí o pai leva o livro para o quarto e o deixa sobre o criado mudo. O menino vai lá assuntar... Se um livro não provocar o desejo de roubo não merece ser lido.
(Fonte: Folha de São Paulo, terça-feira, 9 de janeiro de 2007 - COTIDIANO Rubem Alves )
Livros para serem furtados...
O agente do governo, desses encarregados de ir pelos campos visitando pequenos sitiantes para dizer-lhes das últimas maravilhas da ciência para assim melhorar suas colheitas e animais, estava desanimado. Visitava sitiantes, conversava, bebia café aguado doce, contava sobre os porcos melhores que eles poderiam criar, ninguém discordava, mas ninguém fazia nada. Continuavam a cria os porquinhos caruncho, mirrados. Desanimado, ele contou sua tristeza para um velho sábio. E foi isso que ele lhe disse: “O senhor está usando a pedagogia errada. O povo daqui sabe que ninguém faz nada de graça. São delicados. Não contestam. O senhor fala, eles prestam atenção, mas ficam pensando: ‘O que é que o doutor quer tirar da gente? O meu conselho é: pare de visitar e aconselhar. É inútil. Compre uma chacrinha. Cerque com arame farpado, seis fios. E escreva: ‘Entrada proibida’. Aí eles vão perguntar: ‘O que é que o doutor está escondendo da gente? O que é que a gente pode roubar dele?’Aí, de noite, eles vão assuntar. Vão ver seus porcos grandes e gordos...Agora são eles que vão visitar o senhor. Conversa vai, conversa vem, café com rosquinha, no final eles vão dizer: ‘Bonita a porcaiada sua. Sadia, grande, gorda...’Então, aos pouquinhos, como quem não quer nada, o senhor vai educando eles...’ Pensei que a filosofia do sábio matuto pode ser aplicada na educação. O roubo é um estímulo poderoso. Santo agostinho roubava pêras do vizinho só pelo prazer de roubar. Eu mesmo roubei pitangas e, para realizar meu furto, inventei uma maquineta de roubar pitangas. Meu desejo de roubar me fez pensar. Todo pai, mãe e professora fica atormentando as crianças e adolescentes para ler. Comportam-se como o agente do governo tentando ensinar os caipiras. Mas eles não querem ler. Ler é chato. Livro que se deseja ler são os livros proibidos: precisam ser roubados. Era assim quando eu era pequeno. A gente roubava o livro proibido e ia atrás das passagens mais escabrosas. Conselho para o pai: compre um livro engraçado e se ponha a ler na presença do filho, durante o “Jornal Nacional”. Quando chegar uma passagem engraçada ria, ria muito alto. O menino vai perguntar: “Pai, por que é que você está rindo?” “É esse livro aqui, meu filho”. “O que é tão engraçado?” “Agora não posso explicar. Não posso interromper a leitura...” O menino fica intrigado. Seu pai está tendo um prazer que ele não tem. Aí o pai leva o livro para o quarto e o deixa sobre o criado mudo. O menino vai lá assuntar... Se um livro não provocar o desejo de roubo não merece ser lido.
(Fonte: Folha de São Paulo, terça-feira, 9 de janeiro de 2007 - COTIDIANO Rubem Alves )
Assim que li o texto fiquei pensando e pensando em como fazer meus alunos roubarem livros e, mais do que isso, roubarem conhecimentos. De tanto queimar a cabeça fiquei pensando em experiências já vivenciadas por mim e comecei a repensá-las, a juntar com as ideias que outros profissionais compartilharam comigo e vieram algumas coisas que aqui listarei.
1) Sempre tive nas salas de aula uma caixinha do livro. Acho que agora teria cada dia uma caixinha diferente. Também não avisaria os alunos que a coloquei na sala. Deixaria que eles percebessem, perguntassem e ouvissem uma resposta instigante tipo: "AH! É uma caixa que tem os melhores livros da escola. Foi selecionada ontem e pediram para guardar por aqui...", dependendo de como a turma reagisse, caso demonstrasse pouco interesse diria que eu estava morta de curiosidades. Assim atacaríamos!!!!
2) Pensei também em chegar com uma mala de viagem em que dentro dela tivesse um jogo de pergunta e resposta sobre alguma matéria que estava sendo lecionada. Diante da curiosidade, abriríamos a mala e os alunos veriam vários papeis coloridos com as perguntas a serem respondidas. O mais legal nessas atividades de perguntas e respostas é o fato do aluno se sentir estimulado a saber, o professor pode propor tempo para que os discentes busquem nos livros e cadernos. Vendo a importância da pesquisa para a consolidação do conhecinto.
Bem, agora é só!!! Caso novas ideias borbulhem pela minha cabeça escreverei nos comentários. Ah!!! E vocês também!!!!
Foto: Ananda Luz |